O Brasil na Primeira Guerra Mundial (1914-1918) tinha uma posição
respaldada pela Convenção de Haia, mantendo-se inicialmente neutro, buscando não restringir os seus produtos exportados na época, principalmente o café. O Brasil foi o único país latino-americano que participou da Primeira Guerra Mundial.
FASE INICIAL
No início da guerra, apesar de neutro, o Brasil enfrentava
uma situação social e econômica complicada. A sua economia era
basicamente fundamentada na exportação de apenas um produto agrícola, o café. Como este não era essencial, suas exportações (e as
rendas alfandegárias, a principal fonte de recursos do governo) diminuíram
com o conflito. Isto se acentuou mais com o bloqueio alemão e, depois, com a
proibição à importação de café feita pela Inglaterra em 1917, que passou a considerar o espaço de carga nos navios
necessário para produtos mais vitais, haja vista as grandes perdas causadas
pelos afundamentos de navios mercantes pelos alemães.
As relações entre Brasil e a Inglaterra foram
abaladas pela decisão alemã de autorizar seus submarinos a afundar qualquer
navio que entrasse nas zonas de bloqueio. No dia 5 de abril de
1917 o vapor brasileiro Paraná, um dos maiores navios
da marinha mercante (4.466 toneladas), carregado de café, navegando de acordo com as
exigências feitas a países neutros, foi atacado por um submarino alemão a milhas do cabo Barfleur, na França, e três brasileiros foram mortos.
MANIFESTAÇÕES POPULARES
Quando a notícia do afundamento do vapor Paraná chegou ao
Brasil poucos dias depois, eclodiram diversas manifestações populares nas
capitais. O ministro de relações exteriores, Lauro Müller, de origem alemã e favorável à neutralidade na guerra,
foi obrigado a renunciar. Em Porto Alegre, passeatas foram organizadas com milhares de pessoas.
Inicialmente pacíficas, as manifestações passaram a atacar estabelecimentos
comerciais de propriedades de alemães ou descendentes - o Hotel Schmidt , a Sociedade
Germânia, o clube Turnebund e o jornal Deutsche Zeitung foram invadidos,
pilhados e queimados.
Ao mesmo tempo, em outras capitais houve pequenos
distúrbios. Novos episódios com violência só ocorreriam quando da declaração de
guerra do Brasil à Alemanha em outubro.
Por outro lado, sindicalistas, pacifistas, anarquistas e comunistas se
colocavam contra a guerra e acusavam o governo de estar desviando a atenção dos
problemas internos, entrando em choque por vezes com os grupos nacionalistas
favoráveis a entrada do país no conflito. À greve
geral de 1917, seguiu-se acentuada de uma violenta
repressão, usando a "Declaração de Guerra" em outubro do mesmo ano
para declarar estado de sítio e
perseguir opositores.
APOIOS OU ALIADOS
A abertura dos portos brasileiros a unidades aliadas e a responsabilidade
pelo patrulhamento do Atlântico Sul pela
esquadra brasileira foram as primeiras ações em apoio ao esforço de guerra
aliado.
A Divisão Naval em Operações de Guerra, comandada pelo contra-almirante Pedro Max Fernando Frontin, incorporou-se à esquadra britânica em Gibraltar e
realizou o primeiro esforço naval brasileiro em águas internacionais.
Em cumprimento aos compromissos assumidos com a Conferência Interaliada,
reunida em Paris de 20 de novembro a 3 de dezembro de 1917, o Governo brasileiro enviou uma missão médica composta
de cirurgiões civis e militares, para atuar em hospitais de campanha do teatro
de operações europeu, um contingente de sargentos e oficiais para servirem
junto ao exército francês; aviadores do Exército e da Marinha para
se juntarem à Força
Aérea Real, e o emprego de parte da Esquadra,
fundamentalmente na guerra
anti-submarina.
PARTICIPAÇÃO
DA MARINHA
Coube a marinha a maior, embora modesta, contribuição
militar brasileira no conflito. Para cumprir as atribuições da Marinha, o
Ministro, Almirante Alexandrino Faria de Alencar, determinou a organização de uma força-tarefa que
permitisse a efetiva participação da Marinha brasileira na Primeira Guerra
Mundial. Logo, pelo Aviso Ministerial nº 501, de 30 de janeiro de 1918, foi constituída a Divisão Naval em Operações de Guerra(DNOG), composta de unidades retiradas das divisões que
formavam a Esquadra brasileira. Passaram a compor a DNOG os cruzadores Rio Grande do Sul e Bahia, os contratorpedeiros Piauí, Rio Grande do Norte, Paraíba e Santa Catarina, o Tender Belmonte e o Rebocador Laurindo Pitta.
A Esquadra naval brasileira
foi inicialmente incumbida de patrulhar a área compreendida pelo triângulo
marítimo na costa noroeste africana, cujos vértices eram a cidade de Dacar, o arquipélago de São Vicente (Cabo Verde), e Gibraltar na
entrada do Mediterrâneo. Ficaria sob as ordens do Almirantado britânico,
representado pelo Almirante Hischcot Grant. Para
comandá-la, foi designado um dos oficiais de maior prestígio na época, o Contra-Almirante Pedro Max Fernando Frontin, nomeado em 30 de janeiro de 1918.
A guerra no mar, para o Brasil, teve início no dia 1 de agosto, quando da partida da DNOG do porto
do Rio de Janeiro. No dia 3 de agosto de
1918, o navio brasileiro Maceió foi torpedeado pelo submarino alemão U-43. Em 9 de agosto de
1918, atingiu Freetown, permanecendo 14 dias neste ponto, quando então os
homens começaram a adoecer com o vírus da
gripe espanhola.
Na noite do dia 25 de agosto, na travessia de Freetown para Dacar, a divisão sofreu
um ataque torpédico feito por submarino alemão, mas sem causar vítimas ou danos
nos navios. Felizmente, os torpedos passaram sem causar danos entre os navios
brasileiros, que lançaram um contra-ataque usando cargas de profundidade, tendo
a marinha real britânica creditado aos brasileiros o afundamento de um
submarino inimigo.
Posteriormente, já fundeada no porto de Dacar, a
tripulação da divisão foi vítima da epidemia conhecida na época como a gripe
espanhola, que tirou a vida de mais de uma centena de marinheiros e imobilizou
a Força por dois meses naquele porto.
Entre o comando naval aliado houve intenso debate sobre
como as forças da frota brasileira deveriam ser utilizadas; "Os
italianos queriam-los no Mediterrâneo, já os americanos preferiam que
trabalhassem em estreita colaboração com suas próprias forças no Atlântico
Norte, enquanto os franceses queriam mantê-los na proteção do tráfego marítimo
comercial ao longo da costa ocidental norte-africana entre Dakar e Gibraltar." Esta
hesitação do comando aliado, combinada com o atraso ao longo de 1918 para se lançar
a esquadra ao mar devido à problemas operacionais, além da epidemia que atingiu
a tripulação no final de agosto, fez com que a frota fosse designada ao
mediterrâneo somente no início de novembro de 1918, apenas para ver dias depois, o armistício com a
Alemanha ser assinado, pondo fim na guerra.
FIM DA GUERRA
Em 11
de novembro de 1918, foi assinado o armistício, tão ansiosamente esperado pelos
europeus cujos países foram devastados pelo conflito. O Brasil deu sua módica
parcela de contribuição e graças a isso conseguiu assento na Conferência de Paz de Paris, que deu origem ao Tratado de Versalhes, obtendo assim sua parte no botim de guerra conseguindo da
Alemanha o pagamento com juros do café perdido com os navios
naufragados, mais 70 navios dos Impérios Centrais (a maioria alemã) que haviam sido
apreendidos em águas brasileiras quando da declaração de guerra e que foram
incorporados à frota brasileira a preços simbólicos.
ACORDO DE
PAZ
Terminada a guerra o Brasil participou da Conferência de Versalhes, com
uma comitiva chefiada pelo futuro presidente Epitácio Pessoa. Esta comitiva conseguiu incluir no acordo de paz a indenização de
sacas de café apreendidas em portos alemães quando da declaração da Guerra e a
venda dos navios alemães apresados. O Brasil também foi um dos fundadores da Liga
das Nações. Após voltar ao Brasil, a Divisão Naval em
Operações de Guerra foi dissolvida em 25 de junho de 1919, cumprindo, integralmente, a missão que lhe fora
confiada.
Do ponto de vista econômico, se em um primeiro momento as
exportações caíram bruscamente, gerando crise numa economia dependente do café,
com o prolongamento do conflito o Brasil passou a ter boas oportunidades
comerciais. O aumento da demanda internacional por gêneros alimentícios e
matérias-primas forçou o país a mudar sua estrutura econômica basicamente
agrícola. É nessa época que o Brasil conhece um surto industrial inédito em sua
história, valendo-se também da mão-de-obra imigrante, composta sobretudo por
europeus que fugiam da fome e, depois, da guerra. O número de fábricas
quadruplicou nos anos da guerra, dobrando o número de operários. A indústria
brasileira conquistou o mercado interno e fez diminuir o número de itens
importados, modificando parcialmente a face socioeconômica do país.

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