segunda-feira, 11 de maio de 2015

A PARTICIPAÇÃO DO BRASIL NA PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL



O Brasil na Primeira Guerra Mundial (1914-1918) tinha uma posição respaldada pela Convenção de Haia, mantendo-se inicialmente neutro, buscando não restringir os seus produtos exportados na época, principalmente o café. O Brasil foi o único país latino-americano que participou da Primeira Guerra Mundial.

FASE INICIAL
O Brasil declarou a sua neutralidade em 4 de agosto de 1914. Desta forma, somente um navio brasileiro, o Rio Branco, foi afundado por um submarino alemão nos primeiros anos da guerra em 16, mas este estava em águas restritas, operando a serviço inglês e com a maior parte de sua tripulação sendo composta por noruegueses, de forma que, apesar da comoção nacional que o fato gerou, não poderia ser considerado como um ataque ilegal dos alemães.
No início da guerra, apesar de neutro, o Brasil enfrentava uma situação social e econômica complicada. A sua economia era basicamente fundamentada na exportação de apenas um produto agrícola, o café. Como este não era essencial, suas exportações (e as rendas alfandegárias, a principal fonte de recursos do governo) diminuíram com o conflito. Isto se acentuou mais com o bloqueio alemão e, depois, com a proibição à importação de café feita pela Inglaterra em 1917, que passou a considerar o espaço de carga nos navios necessário para produtos mais vitais, haja vista as grandes perdas causadas pelos afundamentos de navios mercantes pelos alemães.
As relações entre Brasil e a Inglaterra foram abaladas pela decisão alemã de autorizar seus submarinos a afundar qualquer navio que entrasse nas zonas de bloqueio. No dia 5 de abril de 1917 o vapor brasileiro Paraná, um dos maiores navios da marinha mercante (4.466 toneladas), carregado de café, navegando de acordo com as exigências feitas a países neutros, foi atacado por um submarino alemão a milhas do cabo Barfleur, na França, e três brasileiros foram mortos.
MANIFESTAÇÕES POPULARES
Quando a notícia do afundamento do vapor Paraná chegou ao Brasil poucos dias depois, eclodiram diversas manifestações populares nas capitais. O ministro de relações exteriores, Lauro Müller, de origem alemã e favorável à neutralidade na guerra, foi obrigado a renunciar. Em Porto Alegre, passeatas foram organizadas com milhares de pessoas. Inicialmente pacíficas, as manifestações passaram a atacar estabelecimentos comerciais de propriedades de alemães ou descendentes - o Hotel Schmidt , a Sociedade Germânia, o clube Turnebund e o jornal Deutsche Zeitung foram invadidos, pilhados e queimados.
Em 1 de novembro uma multidão danificou casas, clubes e fábricas em Petrópolis, entre eles o restaurante Brahma (completamente destruído), a Gesellschaft Germania, a escola alemã, a empresa Arp, o Diário Alemão, entre outros.
Ao mesmo tempo, em outras capitais houve pequenos distúrbios. Novos episódios com violência só ocorreriam quando da declaração de guerra do Brasil à Alemanha em outubro.
Por outro lado, sindicalistas, pacifistas, anarquistas e comunistas se colocavam contra a guerra e acusavam o governo de estar desviando a atenção dos problemas internos, entrando em choque por vezes com os grupos nacionalistas favoráveis a entrada do país no conflito. À greve geral de 1917, seguiu-se acentuada de uma violenta repressão, usando a "Declaração de Guerra" em outubro do mesmo ano para declarar estado de sítio e perseguir opositores.
APOIOS OU ALIADOS
A abertura dos portos brasileiros a unidades aliadas e a responsabilidade pelo patrulhamento do Atlântico Sul pela esquadra brasileira foram as primeiras ações em apoio ao esforço de guerra aliado.
A Divisão Naval em Operações de Guerra, comandada pelo contra-almirante Pedro Max Fernando Frontin, incorporou-se à esquadra britânica em Gibraltar e realizou o primeiro esforço naval brasileiro em águas internacionais.
Em cumprimento aos compromissos assumidos com a Conferência Interaliada, reunida em Paris de 20 de novembro a 3 de dezembro de 1917, o Governo brasileiro enviou uma missão médica composta de cirurgiões civis e militares, para atuar em hospitais de campanha do teatro de operações europeu, um contingente de sargentos e oficiais para servirem junto ao exército francês; aviadores do Exército e da Marinha para se juntarem à Força Aérea Real, e o emprego de parte da Esquadra, fundamentalmente na guerra anti-submarina.

PARTICIPAÇÃO DA MARINHA
Coube a marinha a maior, embora modesta, contribuição militar brasileira no conflito. Para cumprir as atribuições da Marinha, o Ministro, Almirante Alexandrino Faria de Alencar, determinou a organização de uma força-tarefa que permitisse a efetiva participação da Marinha brasileira na Primeira Guerra Mundial. Logo, pelo Aviso Ministerial nº 501, de 30 de janeiro de 1918, foi constituída a Divisão Naval em Operações de Guerra(DNOG), composta de unidades retiradas das divisões que formavam a Esquadra brasileira. Passaram a compor a DNOG os cruzadores Rio Grande do Sul e Bahia, os contratorpedeiros Piauí, Rio Grande do Norte, Paraíba e Santa Catarina, o Tender Belmonte e o Rebocador Laurindo Pitta.
A Esquadra naval brasileira foi inicialmente incumbida de patrulhar a área compreendida pelo triângulo marítimo na costa noroeste africana, cujos vértices eram a cidade de Dacar, o arquipélago de São Vicente (Cabo Verde), e Gibraltar na entrada do Mediterrâneo. Ficaria sob as ordens do Almirantado britânico, representado pelo Almirante Hischcot Grant. Para comandá-la, foi designado um dos oficiais de maior prestígio na época, o Contra-Almirante Pedro Max Fernando Frontin, nomeado em 30 de janeiro de 1918.
A guerra no mar, para o Brasil, teve início no dia 1 de agosto, quando da partida da DNOG do porto do Rio de Janeiro. No dia 3 de agosto de 1918, o navio brasileiro Maceió foi torpedeado pelo submarino alemão U-43. Em 9 de agosto de 1918, atingiu Freetown, permanecendo 14 dias neste ponto, quando então os homens começaram a adoecer com o vírus da gripe espanhola.
Na noite do dia 25 de agosto, na travessia de Freetown para Dacar, a divisão sofreu um ataque torpédico feito por submarino alemão, mas sem causar vítimas ou danos nos navios. Felizmente, os torpedos passaram sem causar danos entre os navios brasileiros, que lançaram um contra-ataque usando cargas de profundidade, tendo a marinha real britânica creditado aos brasileiros o afundamento de um submarino inimigo.
Posteriormente, já fundeada no porto de Dacar, a tripulação da divisão foi vítima da epidemia conhecida na época como a gripe espanhola, que tirou a vida de mais de uma centena de marinheiros e imobilizou a Força por dois meses naquele porto.
Entre o comando naval aliado houve intenso debate sobre como as forças da frota brasileira deveriam ser utilizadas; "Os italianos queriam-los no Mediterrâneo, já os americanos preferiam que trabalhassem em estreita colaboração com suas próprias forças no Atlântico Norte, enquanto os franceses queriam mantê-los na proteção do tráfego marítimo comercial ao longo da costa ocidental norte-africana entre Dakar e Gibraltar." Esta hesitação do comando aliado, combinada com o atraso ao longo de 1918 para se lançar a esquadra ao mar devido à problemas operacionais, além da epidemia que atingiu a tripulação no final de agosto, fez com que a frota fosse designada ao mediterrâneo somente no início de novembro de 1918, apenas para ver dias depois, o armistício com a Alemanha ser assinado, pondo fim na guerra.

FIM DA GUERRA
Em 11 de novembro de 1918, foi assinado o armistício, tão ansiosamente esperado pelos europeus cujos países foram devastados pelo conflito. O Brasil deu sua módica parcela de contribuição e graças a isso conseguiu assento na Conferência de Paz de Paris, que deu origem ao Tratado de Versalhes, obtendo assim sua parte no botim de guerra conseguindo da Alemanha o pagamento com juros do café perdido com os navios naufragados, mais 70 navios dos Impérios Centrais (a maioria alemã) que haviam sido apreendidos em águas brasileiras quando da declaração de guerra e que foram incorporados à frota brasileira a preços simbólicos.

ACORDO DE PAZ
Terminada a guerra o Brasil participou da Conferência de Versalhes, com uma comitiva chefiada pelo futuro presidente Epitácio Pessoa. Esta comitiva conseguiu incluir no acordo de paz a indenização de sacas de café apreendidas em portos alemães quando da declaração da Guerra e a venda dos navios alemães apresados. O Brasil também foi um dos fundadores da Liga das Nações. Após voltar ao Brasil, a Divisão Naval em Operações de Guerra foi dissolvida em 25 de junho de 1919, cumprindo, integralmente, a missão que lhe fora confiada.
Do ponto de vista econômico, se em um primeiro momento as exportações caíram bruscamente, gerando crise numa economia dependente do café, com o prolongamento do conflito o Brasil passou a ter boas oportunidades comerciais. O aumento da demanda internacional por gêneros alimentícios e matérias-primas forçou o país a mudar sua estrutura econômica basicamente agrícola. É nessa época que o Brasil conhece um surto industrial inédito em sua história, valendo-se também da mão-de-obra imigrante, composta sobretudo por europeus que fugiam da fome e, depois, da guerra. O número de fábricas quadruplicou nos anos da guerra, dobrando o número de operários. A indústria brasileira conquistou o mercado interno e fez diminuir o número de itens importados, modificando parcialmente a face socioeconômica do país.

 

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